Neste fim de semana, Estado de S. Paulo, Folha e até Veja reconhecem o
erro dos que previram caos durante o Mundial de 2014; na Folha,
"prenúncio de que Copa seria o 'fim do mundo' não aguentou 3 dias"; no
Estado, "apesar de problemas, Copa vence o caos"; em Veja, a mesma que
previa que os estádios ficariam prontos apenas em 2038, "Só alegria até
agora"; será que você foi enganado pelos arautos do "Imagina na Copa"?
247 - A mídia
familiar brasileira reconhece: seus leitores foram enganados nos meses
que antecederam a Copa do Mundo de 2014. Sabe aquele bordão, o Imagina
na Copa? Ou a teoria de que os estádios não ficariam prontos e haveria
caos nos aeroportos? Era apenas terrorismo midiático, com óbvias
intenções políticas.
Não é exatamente isso o que dizem os
jornais deste domingo, mas, assim, poderia ser escrita a história de
como grandes conglomerados de mídia desembarcaram da teoria do caos na
Copa.
No Estado de S. Paulo, a reportagem
de Lourival Sant'anna informa que "apesar de problemas, Copa vence o
caos". "Está tendo Copa sim e o Brasil não está fazendo tão feio", diz o
texto, sem esconder sua má-vontade com o próprio País. "O resultado é
surpreendente: nos pontos em que se temiam mais problemas, como os
aeroportos, o transporte e a segurança pública, as coisas estão indo
relativamente bem".
Na Folha, Nelson de Sá diz que
"prenúncio de que Copa seria o 'fim do mundo' não aguentou três dias". A
reportagem, no entanto, transfere para a mídia internacional os ataques
ao Brasil, como se veículos internacionais não formassem suas opiniões e
consensos a partir do que recebem de informação da mídia nativa. "Do
início do ano até a abertura da Copa do Mundo, a imagem do Brasil foi
alvo de um ataque de histeria da mídia ocidental", é a frase que abre a
reportagem da Folha. Mas onde será que a mídia ocidental se informava
sobre o Brasil?
Entre os profetas do caos que tiram o
time de campo, até Veja, aquela que previa a entrega dos estádios
apenas em 2038, deu uma guinada. Na capa deste fim de semana, o título
"Só alegria até agora". No entanto, na chamada de capa, a revista
adverte que é melhor aproveitar a festa, "pois legado duradouro,
esqueça". Ou seja: como se estádios e aeroportos fossem desaparecer
depois do Mundial.
A verdade, pura e simples, é que
leitores foram enganados. E alguns que se deixaram enganados agora estão
arrependidos, como a colunista Mariliz Pereira Jorge, da Folha, que
caiu na esparrela do caos, deixou de tirar férias, de comprar ingressos e
de aproveitar a #copadascopas. "Chega o ano em que a Copa é no Brasil.
Sempre quis uma Copa no Brasil. Vou tirar férias, passar o mês viajando
pelo país, assistir a todos os jogos possíveis, fazer festa na rua, me
embebedar abraçada com gente desconhecida. Broxei junto com o clima
anti-copa e não fiz nada para participar dela. Ela chegou e eu fiquei de
fora", disse ela (leia mais aqui).
Colunista da Folha se arrepende: caiu na lorota da mídia
Jornalista Mariliz Pereira Jorge, colunista da Folha de S. Paulo e editora do programa "Encontro com Fátima Bernardes", publica texto "A Copa dos arrependidos", no qual lamenta o fato de não ter se preparado para curtir melhor a Copa no Brasil; "Chega o ano em que a Copa é no Brasil. Sempre quis uma Copa no Brasil. Vou tirar férias, passar o mês viajando pelo país, assistir a todos os jogos possíveis, fazer festa na rua, me embebedar abraçada com gente desconhecida. Broxei junto com o clima anti-copa e não fiz nada para participar dela. Ela chegou e eu fiquei de fora. Tem gente que está preocupado se o Brasil vai ganhar, eu só quero me divertir. Está sendo a Copa das Copas", diz
247 - "Eu me arrependi. Me arrependi
de não ter comprado ingressos, de não ter tirado férias, de não estar
hoje em Porto Alegre e amanhã em Manaus. De não poder torcer ao vivo
pelo Brasil, pela Austrália ou por Gana. Me arrependi de ter ficado de
mimimi na hora errada".
É assim que a jornalista Mariliz
Pereira Jorge, colunista da Folha de S. Paulo e editora do programa
"Encontro com Fátima Bernardes" inicia seu texto "A Copa dos
arrependidos", no qual ela lamenta o fato de não ter se preparado para
curtir melhor a Copa no Brasil.
"Chega o ano em que a Copa é no
Brasil. Sempre quis uma Copa no Brasil. Vou tirar férias, passar o mês
viajando pelo país, assistir a todos os jogos possíveis, fazer festa na
rua, me embebedar abraçada com gente desconhecida. Broxei junto com o
clima anti-copa e não fiz nada para participar dela. Ela chegou e eu
fiquei de fora. Mas ainda tenho esperança de emplacar um jogo ao vivo e
fazer num dia só o que planejei para o mês todo. Tem gente que está
preocupado se o Brasil vai ganhar, eu só quero me divertir. Está sendo a
Copa das Copas", diz.
Abaixo o texto na íntegra:
Eu me arrependi. Me arrependi de não
ter comprado ingressos, de não ter tirado férias, de não estar hoje em
Porto Alegre e amanhã em Manaus. De não poder torcer ao vivo pelo
Brasil, pela Austrália ou por Gana. Me arrependi de ter ficado de mimimi
na hora errada.
Eu gosto de futebol, mas gosto de
várias outras coisas muito mais do que de futebol. E uma delas é Copa do
Mundo. Um não tem nada a ver com o outro, ainda que tenha tudo a ver.
Cada uma delas marca a gente de um jeito diferente.
Me lembro onde estava em todos os
anos desde 1982, quando o Brasil foi desclassificado e meu pai levou meu
irmão e eu para tomar um sorvete e esfriar os ânimos. Os ânimos dele.
Eu ainda não entendia muito bem a dimensão de tudo aquilo, mas ainda
lembro da cara de desconsolo do velho e do silêncio sepulcral da cidade.
Acho que foi quando eu descobri o que era decepção. Foi a Copa do
sorvete.
Teve um ano, que a gente se reunia
na chácara de uns amigos para fazer churrasco e ver todos os jogos do
Brasil. Não lembro da escalação, nem quem ganhou a Copa, mas lembro do
Ricardo, um menino de franja caída sobre os olhos, por quem eu era
apaixonada, que chegava sempre chapado num Fiat 147 rebaixado. Ele mal
olhava para mim, mas eu só tinha olhos para ele. Foi a Copa do Ricardo.
Em 1998, eu estudava no Canadá. Já
no primeiro jogo, descobrimos em Little Portugal um bar sintonizado no
jogo. Encheu de brasileiro, ganhamos sei lá contra quem, fechamos a rua,
teve Carnaval, a polícia não entendeu nada. No segundo jogo, o esperto
do portuga, dono do bar, conseguiu transmissão da Globo e passou a
cobrar 10 doletas de entrada. Entupia. Perdemos na final, a rua lotada
de brasileiros e gringos na maior festa. Os policiais não se
conformavam: haven't you lost the game? Foi a Copa do Galvão.
O ano do Japão e da Coréia do Sul eu
não esqueço, pelo menos do perrengue. Colocava o despertador para
acordar de madrugada e ir para a sala enrolada num cobertor. Ouvia os
gritos nos prédios ao lado, as luzes acendiam. O Brasil ganhava, ninguém
mais dormia e eu morria de arrependimento de não estar no bar mesmo com
frio e com sono. Mas o que eu me lembro mesmo foi que me reuni com um
turma para tomar café da manhã e ver a final. A gente ganhou, mas ver
jogo de madrugada é muito chulé. Foi a Copa do #nãovaitercerveja.
Então, chega o ano em que a Copa é
no Brasil. Sempre quis uma Copa no Brasil. Vou tirar férias, passar o
mês viajando pelo país, assistir a todos os jogos possíveis, fazer festa
na rua, me embebedar abraçada com gente desconhecida.
Broxei junto com o clima anti-copa e não fiz nada para participar dela.
Ela chegou e eu fiquei de fora.
Engrossei a massa dos sem-ingresso. Também quero cantar o hino à capela,
quero ir na FIFA Fun Fest, quero beber na Vila Madalena até de manhã
com gente feliz e estrangeira. Quero esquecer até 13 de julho que tudo
foi feito errado.
Ontem, quando ficava pronta para ir
ao trabalho, um amigo me ofereceu ingressos para ver a Espanha ser
despachada de volta pra casa. Sem condição. Tinha que bater ponto em
Curicica. Assisti ao jogo pela TV. Continuo em último no bolão. Mas
tenho me divertido mesmo à distância como nunca em todos os mundiais da
minha vida com tudo que leio, vejo e ouço. Eita, povo criativo. Eita,
povo emocionante.
Ainda tenho esperança de emplacar um
jogo ao vivo e fazer num dia só o que planejei para o mês todo. Tem
gente que está preocupado se o Brasil vai ganhar, eu só quero me
divertir. Está sendo a Copa das Copas.
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